Posts Marcados Com: história de vida

Voz do cliente – Douglas Prats

Douglas Prats foi nosso primeiro cliente, na época em que a Biografias & Profecias passava de um sonho para a realidade. Era 2006 quando apresentamos para ele a ideia de uma editora com essa proposta e ele não só apreciou como já quis um livro.

Agora quem conta a história é ele:

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Novo livro: Encontros que celebram a vida

Sabemos que dizer que se trata de um “projeto especial” já está ficando repetitivo na nossa história. Mas fazer o quê? Não podemos nos queixar desse nosso trabalho!

Então mais uma vez, afirmamos em alto e bom som: este foi um livro muito especial. Ficamos honrados em contar essa história que foi assim…

Em novembro do ano passado, fomos chamados pela família desta biografada, pois queriam presenteá-la em seu aniversário, no dia 28 de fevereiro. O tempo era curto, mas viável de se fazer algo do tamanho de uma bela homenagem. Conversamos com o marido, os filhos e com a própria protagonista da história, que, sem desconfiar de nada, nos contou um pouco sobre algumas passagens de sua vida. Em paralelo, colhemos depoimentos daqueles que cruzaram e que fazem parte de sua vida. Familiares, amigos, colaboradores…

A surpresa estava garantida!

Decidido que o livro viria dentro de uma caixa, a filha da biografada nos contou que a mãe adorava trabalhos em patchwork e conhecia uma costureira ideal para providenciar este tecido, que usamos para encapar o exterior da caixa. Na parte interna, um tecido menos espesso e mais neutro.

Compondo a narrativa de sua vida, o projeto gráfico contou com fotos de sua história e elementos gráficos que conversam com sua personalidade… No caso dela, algo suave e alegre, com pinceladas a presença de aquarelas. Dessa forma, aquarelas da própria homenageada ilustram os inícios de cada capítulo.

Foi um desafio para a família selecionar dezenas de fotos sem que ela percebesse. Mas valeu a pena!

 

 

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Lançamento – Paviloche 25 anos

Todo livro tem um sabor diferente. Mas se for para falarmos em termos literais, este no qual contamos a história da Paviloche – marca de sorvete localizada em Joiville, Santa Catarina – dá água na boca de qualquer um. É que além de todos os ingredientes que constroem uma história, como coragem, perseverança, acertos, erros, lições e união, o fio condutor desta narrativa são essas delícias geladas!

Seu Jair e dona Ivete Pavinato rumaram da confecção de linhas e lãs que aqueciam as pessoas no inverno para a fábrica e lojas de sorvete que nos refrescam no verão (bom, e no friozinho também, por que não?). Mudaram do Rio Grande do Sul para Santa Catarina, onde recomeçaram quando já tinham mais de 40 anos. Construíram uma marca de sucesso que, além de completar 25 anos em 2015, é honrada pelos filhos do casal, Douglas, Doriane, Diógenes e Diego.

Celebramos por ouvir e contar mais uma história que agora está eternizada em livro! Está garantida a perenidade de tantas passagens que trazem significado para as atuais e próximas gerações, além de resignificar para aqueles que a vivenciaram desde seus primeiros anos. Que o futuro continue sendo próspero e saboroso!

Paviloche 01

Abaixo, o prólogo do livro Paviloche 25 anos – Uma história de sabor, harmonia e felicidade:

“Era uma tarde quente qualquer no distrito de Ipiranga, na pequena cidade de Getúlio Vargas localizada no interior do Rio Grande do Sul. A correria da gurizada era daquelas que dispara o coração de tanta liberdade. O menino, por volta dos seus sete anos, repleto de entusiasmo, brincava com os amigos ao redor de um bar onde, nos finais do dia, depois da jornada de trabalho, agricultores locais se encontravam para jogar conversa fora e tomar um trago.

Após a brincadeira, os garotos suados, invariavelmente entravam no estabelecimento e pediam aos pais uma moeda para comprar um picolé feito pelo próprio dono do lugar. Embora os colegas rodopiassem ao seu redor, naquele dia, como em tantos outros, o menino estava só. Ao seu lado não havia nem seu pai e nem ninguém que lhe oferecesse a delícia gelada. Ele, apesar de tentado, também não pedia. Enquanto todos se refrescavam, chupando picolé, a ele – entre seus sentimentos e silêncio – restava apenas chupar o dedo.

A ingrata privação trouxe um amadurecimento precoce para o menino, mas de forma alguma lhe roubou a alegria. Ao contrário, trouxe a determinação em ser alguém na vida, alguém feliz! Ali, Jair fez um acordo consigo mesmo: “Quem pagará meu picolé serei eu”. E assim foi.”

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Lançamento de livro: Semeando sonhos

IMG_9177_reduzidaCelebramos na semana passada o lançamento de mais uma biografia, agora do querido José Nicodemos Pereira Lopes.

Este livro foi assim: em janeiro de 2014 marcamos o primeiro encontro com aquele que seria nosso próximo biografado: tratava-se de um engenheiro, um perito, um professor da FEI. Aos sessenta e poucos anos, ele queria deixar registrada sua história e a história de suas origens humildes para o seus filhos e garantir que essa trajetória não se apagasse para as gerações seguintes. Nicodemos já tinha este sonho há tempos, observando a riqueza de sua trajetória e ciente de que em algumas culturas é muito comum as famílias terem um livro com o registro de suas histórias.

Essa premissa é o que o rege também o nosso trabalho e – por mais que algumas pessoas estranhem a biografia de alguém “comum”, ou seja, que não está entre as celebridades que vemos na TV ou nas revistas – o ensejo não nos soou estranho. Para nós, que trabalhamos com histórias de vida, não existem pessoas “comuns”.

A surpresa, na verdade, veio quando nos deparamos com aquele senhor que nos abriu a porta de seu escritório naquela manhã.

Como observadores das palavras ditas, mas também das não ditas, ficamos surpesos com a simplicidade do Nicodemos. Se tínhamos uma imagem pré-concebida de um engenheiro, mestre, perito oficial da Justiça, cidadão são-bernardense… aquele pré-conceito caiu por terra naquele instante. E então uma imagem nova, original, começou a se mostrar como tinta fresca em nosso papel em branco quando Nicodemos, com sua voz doce e espírito calmo, começou contar sobre sua vida, começando pela infância. A poeira, o pé no chão e o sonho alto. Ah, e sua risada incomparável!

De uma hora para outra, nos sentimos em casa. “O Nordestino é um poeta, é um artista”, ele nos disse logo no primeiro encontro, quando contou sobre seus pais e pessoas que conhecia. E nos deparamos então com exímio contador de histórias.

E contar histórias não é fácil. Organizar uma vida toda e pensar na maneira de conduzir o leitor é um processo cuidadoso, repleto de armadilhas – sejam as armadilhas da memória ou dos próprios fatos – que são muito particulares de cada livro.

IMG_20150904_200852101_reduzidaNicodemos, em especial, foi um grande companheiro do nosso trabalho. Apaixonado pela história, confiou a nós a realização deste livro, cuja matéria-prima foi generosamente entregue por eleseus familiares e amigos de diferentes épocas e contextos. Portanto ficam os agradecimentos também a todos aos quais pudemos escutar e que compartilharam trechos dessa história. Muitas dessas histórias, contadas com envolvimento e paixão, facilitaram significativamente o trabalho da escrita.

Quando o processo de um livro deste se conclui, não é raro ouvirmos afirmativas do tipo “puxa, fomos até vocês para fazer um livro, mas jamais imaginávamos a experiência que vem junto deste resgate todo!”. No final, o livro acaba sendo mesmo o resultado de um grande mergulho na memória de cada um dos entrevistados, além de toda a emoção ao revisitar fotos, cartas e até mesmo o reencontro entre pessoas que há muito não se viam.

Esperamos que a satisfação de Nicodemos, seus familiares e amigos tenha sido tão grande quanto a da Biografias & Profecias, de fazermos parte deste rico processo biográfico.

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A editora Regina Rapacci Magalhães com Nicodemos Pereira Lopes, o biografado, e Fred Linardi, autor do livro.

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Início do primeiro capítulo.

 

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Minha vida

Minha vida” – Rita Lee

Tem lugares que me lembram
Minha vida, por onde andei
As histórias, os caminhos
O destino que eu mudei.

Cenas do meu filme
Em branco e preto
Que o vento levou
E o tempo traz
Entre todos os amores
E amigos
De você me lembro mais.

Tem pessoas que a gente
Não esquece, nem se esqueceu
O primeiro namorado
Uma estrela da TV
Personagens do meu livro
De memórias
Que um dia rasguei
Do meu cartaz
Entre todas as novelas
E romances
De você me lembro mais.

Desenhos que a vida vai fazendo
Desbotam alguns, uns ficam iguais
Entre corações que tenho tatuados
De você me lembro mais
De você, não esqueço jamais.

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Morte e Vida, Saudade

Por Regina Magalhães

Era ainda cedo quando eu estava na Alameda Santos e, mesmo com o carro em movimento, inconsequentemente resolvi olhar o Facebook no celular. Sincronicidade ou não, para minha surpresa havia uma mensagem postada há minutos por minha amiga Karen: No puedo hablar mucho solo decir que hoy se murio mi hija Nathalia de 8 anos, despues de tanta lucha su cuerpo no aguanto y se murio como los angelitos, durmiendo. Se fue mi reina, mi amor y estoy segura que ella sera feliz ahora y descansara en paz. Gracias a todos los amigos que nos ayudaron todos esos anos de lucha. Estais en nuestros corazones y Nathalia lo sabe. Mi amor por ella sera eterno.

Meu coração disparou e imediatamente comecei a chorar, sentindo-me impotente e desejando estar ao lado de Karen e seu marido Javier, da pequena Sofia, de Dona Pilar e Seu Jovino – os avós. Por que não liguei mais? Por que não lhe escrevi sempre? Fui tomada por dor e culpa.

Tudo que pude fazer foi deixar-lhe uma resposta. Quis cancelar meu dia, deixar a vida de lado e, antes de me desmantelar com aquela notícia, uma enxurrada de lembranças invadiu minha mente.

Antes de Nathy vir ao mundo, pude ver o barrigão de sua mãe, quando estive em Oviedo para me recuperar do Caminho de Santiago, em 2004. Dormi no seu futuro quartinho e ansiosamente esperava a notícia da sua chegada, quando eu já estava de volta ao Brasil.

Então, ela nasceu e foi diagnosticada por uma sofrível doença. Os médicos a desenganaram, o padre do hospital já falava em extrema unção. Batizaram-na às pressas, vestindo-a com o um precioso vestido amarelo que pulsava o quão carinhosamente tinha sido feito pela madrinha de Karen. Quando sua morte parecia uma certeza, a pequena surpreendeu a todos, tirando ela mesma seu respirador e sobrevivendo. Começava aí uma história de amor e luta pela vida.

Quando Nathy foi para casa com seus pais, a relação de mãe e filha era a de um anjo cuidando de outro. Nunca ouvi Karen se lamentar. Nunca. Sempre a vi sorrindo. Sempre a vi conversando com a filha e captando suas respostas, apesar do silêncio. Karen abraçou a maternidade com leveza, alegria e com uma força interna esplendorosa para carregar os pianos da alma. De todas as mulheres que conheço, ela é um dos exemplos mais vivos de amor e, por isso, coragem.

Conheci uma criança muito maior que sua doença ou que seu limitado corpinho. A primeira vez que segurei Nathalia nos braços, ela suspirou e me apaixonei de vez. Ela irradiava uma luz especial e todos ao seu redor lhe deixavam brilhar. Ela refletia a luz do amor de seus pais. Sua boquinha e seu cabelo cacheado davam-lhe um ar de bonequinha. Não era raro alguém estranhar e se constranger com o modo que Karen e Javier a apresentavam ao mundo. Nunca sucumbiram à doença. Nathy ia a todos os lugares, passeava, viajava e ia para a sua escola.

Estava sempre impecável. Seu banho era um ritual que dava gosto presenciar. Primeiro porque algo em sua expressão mudava, relaxava, quando ela era colocada na água. Segundo, pelo banho de cremes, toques e cuidados que Karen amorosamente lhe aplicava. Depois, o penteado, a fivelinha… Cenas de amor que não consigo esquecer.

As complicações eram muitas e a desesperança dos médicos, imensa. Karen percebeu que não eram os doutores que decidiriam sobre o momento de passagem de sua filha, mas a própria Nathalia saberia sua hora.

Oito anos se passaram desde que Nathy chegou ao mundo e no dia 13 de novembro de 2012, ela faleceu dormindo, em casa, como um anjinho. Por mais que esperássemos que isso acontecesse um dia (como acontecerá com todos nós), a notícia da sua partida deixa uma enorme saudade.

Querida, você me trouxe muitas lições e agora vive no coração de todos que a amaram, viveremos uma saudade compartilhada. Só posso reverenciar a vida por poder conhecê-la e ter sua mãe como grande amiga.

Assim, fui tomada por amor e gratidão. Enxuguei as lágrimas, encarei meu dia e segui firme para continuar contando histórias de vida, mesmo que a morte faça parte delas.

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Agora é hora de alegria

Por Sylvia Beatrix

Tenho um belo CV.

Meu curriculum vitae contempla dois casamentos, dois filhos, dois enteados, duas sogras, cinco cunhados, uma irmã, sete tios, um padrasto, quatro avós, catorze primos e aproximadamente dois mil, quatrocentos e noventa domingos. Por isso, me sinto habilitada a dizer, assim de chofre, que almoço dominical familiar não tem cor, nem credo: c’est tout la même chose.

Antes de me tornar uma das protagonistas de cenas familiares óbvias, como apertar entusiasticamente bochechas rosadas de sobrinhos exclamando “Como você cresceu!”, e na seqüência emendar com o famoso “precisamos nos ver mais vezes”, fui parte integrante do casting desta peça chamada “Família” que está em cartaz há mais tempo que a peça de teatro “Trair e Coçar”.  Sim, pois eu tenho 48 anos e a peça está em cartaz há 25.

É bem verdade que cenário, figurino e alguns atores mudaram ao longo do tempo, mas o enredo dominical passou por pouquíssimas revisões. Alguns modismos foram incorporados, coisa que ”       ninguém merece” e está longe de ser “chique no urtimo”, mas desde que me entendo por gente e vejo o Tarcísio Meira fazendo papel de galã às oito da noite, esta sutil reciclagem acontece. Porém, em nenhuma destas revisões – uma só vez que fosse – incluiu a correção dos erros de português cometidos pela famiglia. Isso, nem a pau, Juvenal – a manutenção de “um chopps e dois pastel” é uma questão de honra! Hoje, até vejo um certo charme nisso, mas quando era adolescente – que vergonha!

A principal diferença entre a tradicional lasanha bolonhesa da nonna Karin – minha mãe – com massa caseira e molho de tomate pelado italiano, cozido por horas a fio até chegar ao ponto ideal para só então receber as mini-micro-minúsculas “porpetas”, enroladas uma a uma na noite anterior enquanto a conversa flui com a TV da cozinha ligada, e o sarapatel de mãinha  – Dona Léa, minha sogracarregado de coentro, hortelã e salsinha, miúdos de porco milimetricamente cortados, que também é preparado por horas intermináveis, está no cheiro do palco de quem preparou a iguaria, ou seja, a cozinha. Entram em cena aqui, as fiéis escudeiras, ajudantes do lar, companheiras de vida – Dilma, Maria ou Luzia,  – que há muito tempo acompanham todos os personagens dessa nossa história pessoal. Choram com os nascimentos, sentem as partidas, mas chova ou faça sol, estão com o script na ponta da língua.

Pode ser que, pelo fato do movimento de emancipação feminina ter sido iniciado na terra do fast food e bem longe dos fogões, alguns belos sutiãs foram queimados à toa. O feminismo não alcançou a sala de casa. Quando a comida ansiosamente aguardada e fumegante chega à mesa em travessas pirex, envoltas por panos de prato e acompanhadas dos gritos de “tá quente!” ou “abre espaço na mesa!”, pais, avós, genros e cunhados se aboletam ao redor da mesa e esperam para serem servidos. As amélias entram em cena. Simone de Beauvoir rola de raiva no túmulo. Uma porção disso, aquilo não quero, pouco mais de molho aqui, arroz não precisa,  são distribuídos em cada prato. Sorrisos, acompanham o cardápio.


Assim que esta etapa é concluída, mães, avós, noras e cunhadas partem para a próxima etapa que é servir os filhos. Esta é muito mais rápida, as crianças estão entupidas de salgadinhos diversos, dizem não à praticamente tudo que é oferecido e o que querem é brincar. Ritual terminado é chegada a nossa vez. Sim, eu perpetuo este ritual. Esse papo de mulheres e crianças primeiro, só em naufrágio de navio.

Tanto na família ítalo-paulistana  (a minha família direta) quanto na carioca-nordestina (a família de meu marido),  a quantidade de comida servida alimenta os meus, os teus e os nossos. Pode incluir as  torcidas do Fluminense e do Palmeiras. E ainda sobra para levarmos para casa.

Campeonato paulista, carioca, baiano, italiano e espanhol; peteca, bolinha de gude, automobilismo e tênis, são os temas para a conversa masculina, enquanto a novela, o casamento real britânico, botox e o melhor produto para cabelos ressecados, permeiam o bate papo feminino. Assuntos comuns aos dois lados desta moeda são o transito nas cidades, a falta de tempo, o cenário político nacional, cultura em geral e as manchetes do momento. Se uma discussão mais calorosa não aconteceu na hora do futebol, pode ser que aconteça na hora do licorzinho com café.

Na proporção semanal de seis “boa noite” do William Bonner para um “vamos sorrir e cantar” de Silvio Santos é que esta e outras histórias são lentamente construídas. O “almoço de domingo” pode ter o mesmo jeito, muitas vezes os mesmos participantes, mas cada um deles, constrói a minha história.

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Quando entrar setembro

Por Sylvia Beatrix Pereira

Na próxima “encadernação” quero nascer vaca leiteira e só parir bezerra!

Um sorriso se abre em flor me convidando a conhecer seu jardim logo depois de me fazer rir com esta frase.  É a primeira pessoa que conheço apaixonada por vacas. Tem uma coleção delas em pelúcia, pijamas estampados, bules, xícaras, açucareiros. “Elas são tão lindas!”.

Estou no Centro Paulus, em Parelheiros, setembro de 2010, no meio do nada de acordo com o GPS do carro. No extremo sul da cidade de São Paulo, bugios, borboletas e vagalumes são ouvintes curiosos. Guapuruvus, orquídeas, palmeiras, bromélias e raros espécimes de pau-brasil me cercam e acolhem. As buzinas, o cinza e a pressa, não tem permissão para entrar neste santuário. O tempo nos brinda com sua presença. Tenho uma xícara de chá nas mãos e a companhia de Regina. Acomodadas, ganho novo sorriso.

Aparentemente estamos só nós duas. Engano. Regina é uma trupe e seu nome, majestoso: Regina Marta Valeria Puccinelli Rapacci Kirst Magalhães. Ufa!

A prosa que iniciamos é boa, tem formato de poesia. Isso é muito novo para mim, sou concreta e linear; Regina, abstrata e curvilínea. Um passeio! A pessoa que está diante de mim com seus olhos castanhos, cabelos curtos e vivacidade de moleca, lapida o que vai dizer com apreço e cuidado. Tem por ofício as palavras e como dom, a escuta. Ela faz com que perto dela eu me sinta em casa.

Regina passa seus dias entre os santos, percorrendo a Rodovia Tamoios, colhendo relatos de vida, experiências que serão compartilhadas e memórias que serão eternizadas para escrever livros e semear aprendizados. Tarefa hercúlea para qualquer um, ainda mais se for casado. “Muitas vezes tomo café da manhã em São Sebastião, almoço em São José dos Campos e termino o dia em São Paulo”. Isto só é possível pois tem como parceiro de vida o Alex e como fiel escudeira Meg, a labradora. Eles são as raízes de sua vitalidade e o apoio para construir seus sonhos. Despedir-se é sempre difícil, não raro com lágrimas. Seus amores, a casa e a brisa do mar ficam à espera do novo reencontro. Assim como ela.

A xícara de chá ainda não terminou e sinto como se fôssemos amigas de infância. Em nosso bate papo, descobrimos que acreditamos em caminhos e pessoas e apresentamos, uma à outra, frações de nosso passado. “Cada um de nós é o herói de sua própria jornada e toda história merece ser contada. Essa é a minha inspiração”. E como ela faz isso bem! A começar pelas histórias de sua família, onde consegue misturar dor com humor, pitadas de carinho e doçura, colheradas de respeito e admiração e a dose certa de sofrimento e aprendizado.

Fala de D. Nena com admiração e lágrimas nos olhos. “Recebi muito amor”. Sente saudades do abraço materno, reconhece os ensinamentos passados e o amor recebido. Mas sempre falta uma palavra…

Seu Lelé, permanece firme mas não tão forte, entre a Santa Casa de Lucélia e os cuidados da filha mais velha, Ana Maria Javouhey. Seu pai continua criando causos, dando trabalho e arrancando gargalhadas, vivendo seus 80 anos até a última gota! Terá sido com eles que Regina aprendeu que a vida não segue script?

A juventude de fartura e abundância poderia ter criado uma mulher com valores questionáveis. Nada mais longe da verdade. A jovem que ganhou a contragosto um Chevette completo aos 18 anos e não precisava se preocupar com a cor do saldo em sua conta corrente, é generosa, acolhedora e consciente de suas responsabilidades. Consigo e com os outros.

Tomo emprestadas as palavras de Manoel de Barros para dizer que Regina voa além de suas asas. Já percorreu caminhos sagrados como o de Santiago de Compostela, ficou à deriva em águas brasileiras e hoje dá cambalhotas e faz acrobacias no circo. Em seu coração há espaço para palhaços, como o Fred, yogues que tocam a cabeça com os pés e são lindas, como a Silvia Noara, cervejeiros e são paulino roxo, como o Rodrigo, e interculturalistas em busca de poesia, como eu. Carma, flor, vai dar tudo certo!”.

É difícil explicar o que fez com que, dentre 20 e tantas pessoas que estavam juntas pela primeira vez, uma em especial tenha me chamado a atenção. Nem mais bonita nem mais feia, nem mais alta nem mais baixa, nem mais magra nem mais… bom, talvez aqui tenha alguma característica particular, mas certamente não foi o que se destacou para mim. Se fosse para escolher uma coisa só, ficaria com o sorriso, solto, fácil, às vezes nublado, sempre encantador.

Alguém que sorri em flores, só poderia ter nascido em setembro.

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O passado é vizinho do Brasil

Por Rodrigo Casarin

Chegamos ao Uruguai com o Sol brilhando em um belo céu azul, que apenas disfarçava a temperatura de 10º que esperava pela Bel, minha namorada, e por mim, . Depois de largarmos as coisas no hotel mais barato que encontrei pelo centro da cidade, fomos dar uma volta. Caminhamos até a bela Praça da Independência, a mais famosa da capital uruguaia.

As ruas de Montevidéu são repletas de prédio antigos, nem sempre conservados, cheias de praças bem cuidadas e permeadas por árvores, que, no inverno, despem-se completamente de suas folhas – devem proporcionar um maravilhoso espetáculo de cores durante a primavera. O pacato e atencioso povo uruguaio usa a cidade como uma extensão de suas casas, tomando seus mates, conversando e curtindo as vias públicas, não apenas como um espaço para se deslocar de um lugar a outro.

Na nossa primeira noite na cidade jantamos em um restaurante que poderia muito bem ter servido como um dos cenários de O Poderoso Chefão. Um lugar pequeno, apertado, de luz tênue e móveis de madeira. Ali, dois grandes bifes de uma ótima picanha, uma generosa porção de fritas, uma cerveja e um suco nos custaram menos do que duas promoções de lanches vagabundos em São Paulo. Uma pechincha para os mãos de vaca, um deslumbre para os carnívoros, quase que um paraíso para mim.

No dia seguinte, estádio Centenário, palco da final da primeira edição da Copa do Mundo, em 1930. Apesar de bastante deteriorado, o lugar é um destino sagrado para os amantes do futebol, que nele experimentam a sensação de reviver a história do jogo. Não há como passar por lá e não pensar em como o esporte mudou ao longo dos anos. O quanto se tornou mais atraente para os que pensam em cifras; o quanto perdeu sua essência para os mais românticos.

Saímos do estádio, almoçamos e pegamos um ônibus até o Mercado do Porto. Bastou entrarmos no prédio para que o arrependimento de já termos comido batesse. Pelas estreitas ruas do mercado estão distribuídas dezenas de restaurantes que, em sua maioria, servem parrillada, um prato com diversos cortes de carnes assadas. A tentação não se dá pelos cardápios, mas pela forma com que os uruguaios fazem o seu churrasco: em grandes grelhas que ficam inclinadas para que a gordura escorra por canaletas e não transforme a brasa em fogo, expondo os diversos tipos de carnes a todos os que por ali passam. Impossível não ir embora com o agradável defumado de quem pilota a churrasqueira.

Para fechar o dia, um passeio pela Rambla, avenida com mais de 20km de extensão que beira o Rio da Prata. É em sua margem que muitos uruguaios aproveitam a praia, andam pelo calçadão, pescam ou simplesmente se acomodam em um banco para admirar tranquilamente a paisagem enquanto o dia chega ao seu fim. Foi exatamente o que fizemos.

À noite, fomos a um cassino (há vários na cidade), uma experiência inédita para ambos. Esperava encontrar um ambiente parecido com os dos filmes, contudo, nele havia apenas máquinas e mais máquinas de caça-níqueis. Nada de grandes mesas lotadas de pessoas apostando até a mãe em jogos de cartas distribuídas por um crupiê de roupa impecável, bigode fino e cartola. Uma decepção com trilha sonora de uruguaios tocando músicas brasileiras, de “Morango do Nordeste” a “Não deixe o samba morrer”.      No dia seguinte, pegamos um ônibus para Colônia do Sacramento, cidade fundada por portugueses, considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. A primeira vista que temos do espaço histórico é um pedaço de uma antiga muralha de pedra. Ao passarmos pelo portal da construção, a sensação é que voltamos alguns séculos na história. Ruas e casas também feitas de pedras aparecem aos montes, convidando os turistas a caminharem pelas estreitas vielas e descansarem em bancos e muretas à beira do Rio da Prata. De cima de um farol, é possível ter uma vista panorâmica de boa parte da cidade. Em cada esquina, um novo ângulo para uma bela foto se revela.

Pouco mais de quatro horas são suficientes para conhecer e aproveitar todo o centro histórico de Colônia, mas vale esperar o resto do dia passar em algum banco à beira do Rio da Prata para ver a cidade à noite. Ao cair do Sol, a escuridão é quebrada por luzes amarelas vindas de antigas lanternas. Esse efeito deixa as ruas com uma beleza sombria – e gelada no inverno.

Voltamos para Montevidéu. Nosso avião partiria no dia seguinte.

Antes de irmos embora, demos uma última volta pelas ruas da capital uruguaia. Já havia lido que aos domingos a cidade fica vazia, mas não esperava encontrá-la semideserta. Às dez da manhã nem o Sol havia acordado ainda. Tomadas por uma densa névoa, nas ruas estavam apenas alguns turistas e poucos pedintes.

O avião decolou às 14 horas, com a névoa ainda tomando conta de todo o lugar. Definitivamente, a cidade havia tirado o dia para dormir.

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O palhaço humaninho

Por Rodrigo Casarin

O ano é 2009 e Frederico Linardi trabalha incessantemente. Escreve todo mês para até cinco revistas, duas vezes por semana transforma-se em assessor de imprensa,  em outro dia, auxilia em toda a comunicação de uma clínica médica. Aproveita cada brecha no relógio para resolver algo. É um homem sério e super atarefado, como manda a cartilha. Trabalha, trabalha, trabalha. O semblante de tragédia que possui quando chega em casa até desanima a bailarina Renata, sua esposa, mas não há tempo para se recompor. Precisa trabalhar mais, trabalhar, trabalhar. Ainda faz cursa francês, isso quando não falta à aula para trabalhar um pouco mais. Passa meses sem conseguir terminar de ler sequer um livro, não tem tempo para tal luxo. Contudo, ao olhar a conta bancária, a recompensa. Nunca ganhara tanto dinheiro na vida. E o melhor, pouco gasta. Não tem tempo para isso também. Enquanto Frederico acumula números no banco, distancia-se de tudo o que mais gosta, afasta-se de si mesmo.

Fred mudara-se de Americana para São Paulo para cursar Jornalismo em 2001 e, depois do choque inicial, habituou-se à cidade. Anos depois, da janela de seu apartamento conheceu a bailarina Renata. Ambos trocavam olhares, até que um dia o garoto resolveu interfonar para a menina que admirava do outro bloco. Combinaram um cinema. Combinaram de namorar. Combinaram de morar junto. E hoje combinam de casar em junho.

As obrigações com a casa, com a vida e a pressão por não desperdiçar oportunidades fizeram com que Fred acabasse virando um refém do trabalho. Não queria isso e decidira que o ano de 2010 seria diferente. Trabalharia menos e faria mais coisas que lhe dessem prazer. Levou o francês mais a sério e resolveu fazer um workshop de palhaços com o grupo Jogando no Quintal.

Desde a infância, o rapaz já admirava os artistas pintados que arrancavam gargalhadas de toda a plateia presente no circo – uma das raras e efêmeras opções de lazer em uma cidade de interior. Também gostava de assistir a peças de teatro e filmes com palhaços, mesmo os que não se vestiam como tal, mas tinham a essência desta figura. Afinal, como não considerar Charles Chaplin um grande palhaço?

A realização do workshop fez com que Fred percebesse que poderia vencer a sua timidez, marca que só não lhe é latente porque é tímido demais para transparecê-la, e levar a palhaçada a sério. Agradava-lhe a maneira que o grupo realizava as brincadeiras. Nada de clássicos como torta na cara ou escorregões em cascas de banana, tudo acontecia – e ainda acontece – na base do improviso, criando piadas em cima de temas sugeridos por alguma pessoa, normalmente da plateia. Gostou da experiência e resolveu fazer um outro workshop que e mesma companhia ofereceu no mês seguinte, com a palhaça Gabriella Argento. Um novo curso se formou e seguiu ao longo de dois anos. Agora, em 2012, essa turma que se manteve unida desde então resolveu se tornar um grupo. O nome? Humaninhos.

Quando está em cena com os Humaninhos, Fred incorpora Pacífico, um palhaço que parece deslocado entre seus pares, não é muito de rir, é crítico, gosta de algumas travessuras nojentas, adora cantar e brinca até com o nascimento de Jesus Cristo. Fred encontra na prosa do escritor uruguaio Eduardo Galeano, no texto Humaninhos*, uma das melhores maneiras de descrever Pacífico, que, mais do que personagem, é uma parte do seu próprio criador.

“Um palhaço se cria com aquilo que está dentro de você, expondo as suas sombras, enxergando os seus problemas e brincando com eles, chegando na essência dos dramas, transformando as tragédias em festas. Ele é  tudo aquilo que os pais ensinam os filhos a esconder. O palhaço é um ser totalmente autobiográfico, pois é feito em cima da história de vida do seu criador. Vestimos a menor máscara – o nariz – para tirarmos todas as outras”, explica Fred. Essa exposição do eu de quem interpreta o palhaço faz com que o próprio ator tenha que criar uma casca para não se machucar. Se Pacífico fizer alguma graça sem graça em cima dos palcos, é de Fred que as pessoas vão rir e debochar pela incompetência em se construir a piada. O palhaço é um ser sem orgulho ou preocupação, sem passado ou futuro. Vive apenas o momento. Pode sair da tristeza de um funeral para a alegria de um carnaval em questão de segundos. Uma ação leva a outra, sem qualquer tipo de julgamento. Um palhaço apenas não vive sem a plateia e seus parceiros, elementos essenciais para que a encenação se sustente.

Trabalhando menos e tendo mais tempo para se dedicar a tudo o que gosta de fazer, no final de 2011 chegou o momento de Fred e Pacífico estrearem nos palcos de um teatro. Para quem odiava se apresentar até para os parceiros de grupo, aquele era um grande desafio. No dia da apresentação, a clássica vontade de ir ao banheiro apareceu também para Fred, que viu a sua garganta secar e pensou diversas vezes em que grande burrada havia feito ao aceitar o convite para tamanha exposição. “Ali não é o seu lugar, não devia ter chamado meus pais, porque fiz isso…”, pensava. Contudo, mesmo assim foi em frente e, ao sair aplaudido do palco, experimentou uma das melhores sensações de sua vida.

Atualmente, Fred toca a vida em um ritmo que lhe possibilita ter os seus prazeres, mas ainda não está plenamente satisfeito. Sonha um dia em sair com um circo pela estrada, rodando cidades e mais cidades do interior do Brasil e contar essa história. Quem sabe até levar Pacífico para conhecer os confins do país e ser conhecido por crianças e adultos dos mais diferentes lugares. Sonha em ir, mas também sonha em voltar. E, quando voltar, estará a bailarina à janela esperando pelo palhaço.

*Humaninhos (Eduardo Galeano)

Darwin nos informou que somos primos dos macacos, e não dos anjos. Depois, ficamos sabendo que vínhamos da selva africana e que nenhuma cegonha nos tinha trazido de Paris. E não faz muito tempo ficamos sabendo que nossos genes são quase iguaizinhos aos genes dos ratos.

Já não sabemos se somos obras-primas de Deus ou piadas do Diabo. Nós, os humaninhos:

os exterminadores de tudo,

os caçadores do próximo,

os criadores da bomba atômica, da bomba de hidrogênio e da bomba de nêutrons, que é a mais saudável de todas porque liquida as pessoas, mas deixa as coisas intactas.

os únicos animais que inventam máquinas,

os únicos que vivem ao serviço das máquinas que inventam,

os únicos que devoram sua casa,

os únicos que envenenam a água que lhes dá de beber e a terra que lhes dá de comer,

os únicos capazes de alugar-se ou se vender ou de alugar ou vender os seus semelhantes,

os únicos que matam por prazer,

os únicos que torturam,

os únicos que violam.

E também
os únicos que riem,

os únicos que sonham acordados,

os únicos que fazem seda da baba dos vermes,

os que convertem lixo em beleza,

os que descobrem cores que o arco-íris desconhece,

os que dão novas músicas às vozes do mundo

e criam palavras, para que não sejam mudas

nem a realidade nem sua memória.

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