O caminho até a conclusão de um livro é de muito trabalho e dedicação. Quando nos deparamos com o momento da festa de lançamento de uma obra escrita (Fred Linardi) e editada (Regina Magalhães e Rodrigo Casarin) por nós, somos tomados por uma grande alegria. Presenciamos também a emoção dos clientes, assim como daqueles que fizeram parte da história ou que assistiram mais de longe à trajetória que agora poderão conhecer melhor com a leitura do livro.
Ontem foi o dia de brindar com a Mectron, uma empresa de tecnologia que mostrou para nós um mundo tão desconhecido pelo público quanto controverso. Chamou-nos para contar sobre seus primeiros 20 anos. Foi uma das histórias mais inusitadas com a qual já nos deparamos, como mostram as palavras de Regina Rapacci Magalhães proferidas no evento ocorrido em São José dos Campos:
Boa noite.
Em primeiro lugar, gostaria de agradecer – em meu nome e em nome do meu sócio Fred Linardi, autor da obra – o convite por estar aqui.
Esta fala tem a ver com descobertas.
Quando o Salvador me chamou para uma conversa, a Mectron já estava noiva da Odebrecht e às vésperas dos seus primeiros 20 anos.
Vim curiosa e, por mais que negasse, trazia alguns preconceitos na bagagem. O que é que uma empresa que faz míssil queria falar com uma editora que eterniza memórias que inspiram histórias? O que de inspirador havia de existir no tema mísseis? Para minha surpresa, no hall de entrada estava a imagem do Cristo na Cruz e, nas paredes, ao lado da mesa, desenhos de crianças na sala.
Naquele dia, tive uma aula de cidadania com o Salvador. Como é que eu, uma mulher mais que formada, ainda não tinha parado para pensar na segurança nacional? Como até ali eu era tão alheia a essas questões?
Saí orgulhosa por entender que, apesar do nosso imenso território e apesar de nossa tendência a receber com pouco senso crítico o que vem de fora, eu poderia dormir sossegada porque, graças ao trabalho em harmonia, de militares e civis, governo e indústria, ninguém iria invadir o meu país. Ainda assim o tema se ligava à guerra. E guerra não é um assunto inspirador.
Muito bem. Viemos para uma segunda reunião. Explicamos o quanto seria importante para nós poder fazer ao longo do projeto, além das perguntas esperadas, também aquelas que pulsavam internamente. Por exemplo, tocar no assunto exportação. Toparam. E que o tema guerra também não fosse um tabu. Toparam. E então, mergulhamos de cabeça.
O mundo militar também foi uma novidade. Até então, nunca havíamos chegado tão perto. Mais do que patentes, encontramos homens brilhantes, comprometidos com um propósito, transbordando paixão e respeito com seus papéis, mesmo os que já estão na reserva. Assim igualmente sentimos com cada colaborador que encontramos ou entrevistamos.
Tamanha é a gentileza que pairava no ar, que uma vez o Fred, tentando definir a leveza e carisma das pessoas, resumiu suas impressões: “A Mectron tem uma atmosfera que poderia ser uma fábrica de chocolate!”.
Com todo seu potencial, importância e talento, como aquela empresa tinha tamanha simplicidade em seu DNA? Simplicidade de nobres. Mas, ainda estávamos em conflito.
Então, eu e o Fred, chamamos um filósofo para um papo. Por que ainda nos sentíamos assim? E foi aí que tudo ficou mais do que claro. Na condução da conversa, percebemos que o tema é sim polêmico. Mas a forma como estes fundadores o trataram, desde o início da empresa, sempre foi pelo amor à pesquisa, à Pátria, ao conhecimento, à tecnologia que dê sustentação para um desenvolvimento que não abrace apenas o que é mecânico. A Mectron também se preocupa com o desenvolvimento humano e que ele seja agraciado com tudo que derive desta tecnologia de precisão, produzida em solo nacional. Foram estes os sentimentos que levaram estes homens de alma empreendedora, superar as condições espartanas que muitas vezes tiveram de enfrentar, tendo sempre ao seu lado uma brava gente, um time de colaboradores fiéis, comungando forças a cada obstáculo, ainda que representassem significativos sacrifícios. Pois bem, o segredo de tudo isso estava na intenção destes cinco sócios, que não passava pelo simples desejo de poder.
E aí, olhando a complexidade do mundo, fomos preenchidos pela gratidão e orgulho do nosso país, da nossa inteligência, da nossa riqueza e de tudo que ainda vamos conquistar.
Então, alguém precisa sim pensar na segurança da nossa Nação, do nosso povo, na defesa de nossos interesses, na garantia de proteção.
Deste projeto, saímos mais brasileiros e mais responsáveis. Nisso tudo, qual o nosso papel como cidadãos? Essa é a pergunta que deixamos aberta aos leitores. Não devemos abrir mão de refletir, de participar e acompanhar decisões que, apesar de fugirem ao nosso cotidiano, são tão importantes quanto o mundo material e espiritual. Afinal, com este livro descobrimos que, entre esses dois mundos, o céu e a terra, existe a Soberania Nacional!
Ao nosso Brasil e à Mectron, agora com o sobrenome Odebrecht, um futuro de paz e prosperidade.
Obrigada.

Início do primeiro capítulo:
Se alguém acreditava que as previsões de conflitos não seguiriam adiante, a realidade se impôs ao próprio cotidiano. A verdade estava diante do olhar de todos que observavam um movimento diferente nas ruas de Bagdá. Moradores da cidade saíram para fazer compras esvaziando as prateleiras do supermercado. O Edifício 9 do Conjunto al Salhia, assim como outros prédios da capital iraquiana, recebeu militares que instalaram baterias antiaéreas em seu telhado. Apesar das notícias, dos possíveis riscos de ataque, tudo indicava que a situação não era para pânico. A única certeza que tinham os brasileiros, russos, americanos, tailandeses, egípcios e outros estrangeiros que viviam no Iraque era de que o presidente Saddam Hussein havia decretado uma invasão ao pequeno Kuwait na madrugada do dia 2 de agosto. As primeiras consequências foram o embargo econômico internacional e o decreto da ONU para que estrangeiros deixassem o país assim que possível.
Mas o possível dependia das regras do governo socialista do ditador árabe. Como de praxe em vários países, todos os estrangeiros que permanecessem por mais de 30 dias no Iraque precisariam de um visto para deixar o território. Em possível zona de guerra, as regras não mudaram. Naquele segundo semestre de 1990, quando os jornais noticiavam para o mundo as possibilidades da Guerra do Golfo, jornalistas internacionais ficaram loucos para entrar em solo iraquiano e desempenhar seus trabalhos. Enquanto isso, milhares de estrangeiros que trabalhavam no país passaram a rezar, cada qual na sua fé, para conseguirem seus vistos de saída, o mais rápido possível, antes que a provável guerra se deflagrasse.
(…)
Como sempre, primamos tanto pelo conteúdo quanto pela “embalagem”. O projeto gráfico foi realizado em parceria com Marcelo Casalecchi e ilustrações de Nicolas Cares, integrantes da equipe da ArteMidia.