Celebramos na semana passada o lançamento de mais uma biografia, agora do querido José Nicodemos Pereira Lopes.
Este livro foi assim: em janeiro de 2014 marcamos o primeiro encontro com aquele que seria nosso próximo biografado: tratava-se de um engenheiro, um perito, um professor da FEI. Aos sessenta e poucos anos, ele queria deixar registrada sua história e a história de suas origens humildes para o seus filhos e garantir que essa trajetória não se apagasse para as gerações seguintes. Nicodemos já tinha este sonho há tempos, observando a riqueza de sua trajetória e ciente de que em algumas culturas é muito comum as famílias terem um livro com o registro de suas histórias.
Essa premissa é o que o rege também o nosso trabalho e – por mais que algumas pessoas estranhem a biografia de alguém “comum”, ou seja, que não está entre as celebridades que vemos na TV ou nas revistas – o ensejo não nos soou estranho. Para nós, que trabalhamos com histórias de vida, não existem pessoas “comuns”.
A surpresa, na verdade, veio quando nos deparamos com aquele senhor que nos abriu a porta de seu escritório naquela manhã.
Como observadores das palavras ditas, mas também das não ditas, ficamos surpesos com a simplicidade do Nicodemos. Se tínhamos uma imagem pré-concebida de um engenheiro, mestre, perito oficial da Justiça, cidadão são-bernardense… aquele pré-conceito caiu por terra naquele instante. E então uma imagem nova, original, começou a se mostrar como tinta fresca em nosso papel em branco quando Nicodemos, com sua voz doce e espírito calmo, começou contar sobre sua vida, começando pela infância. A poeira, o pé no chão e o sonho alto. Ah, e sua risada incomparável!
De uma hora para outra, nos sentimos em casa. “O Nordestino é um poeta, é um artista”, ele nos disse logo no primeiro encontro, quando contou sobre seus pais e pessoas que conhecia. E nos deparamos então com exímio contador de histórias.
E contar histórias não é fácil. Organizar uma vida toda e pensar na maneira de conduzir o leitor é um processo cuidadoso, repleto de armadilhas – sejam as armadilhas da memória ou dos próprios fatos – que são muito particulares de cada livro.
Nicodemos, em especial, foi um grande companheiro do nosso trabalho. Apaixonado pela história, confiou a nós a realização deste livro, cuja matéria-prima foi generosamente entregue por eleseus familiares e amigos de diferentes épocas e contextos. Portanto ficam os agradecimentos também a todos aos quais pudemos escutar e que compartilharam trechos dessa história. Muitas dessas histórias, contadas com envolvimento e paixão, facilitaram significativamente o trabalho da escrita.
Quando o processo de um livro deste se conclui, não é raro ouvirmos afirmativas do tipo “puxa, fomos até vocês para fazer um livro, mas jamais imaginávamos a experiência que vem junto deste resgate todo!”. No final, o livro acaba sendo mesmo o resultado de um grande mergulho na memória de cada um dos entrevistados, além de toda a emoção ao revisitar fotos, cartas e até mesmo o reencontro entre pessoas que há muito não se viam.
Esperamos que a satisfação de Nicodemos, seus familiares e amigos tenha sido tão grande quanto a da Biografias & Profecias, de fazermos parte deste rico processo biográfico.
A editora Regina Rapacci Magalhães com Nicodemos Pereira Lopes, o biografado, e Fred Linardi, autor do livro.
Início do primeiro capítulo.